Não tem jeito: quem passa por uma roda de capoeira sempre dá uma paradinha para olhar.

É que a modalidade realmente provoca um fascínio quase mágico tanto em quem participa do gingado quanto em quem assiste. Embora ela esteja presente em vários lugares do Brasil, não dá para negar que a capoeira é realmente a cara da Bahia. Adorada tanto em Salvador quanto em muitos municípios do interior do estado, a tradição encanta nativos e visitantes com seu ritmo contagiante e sua bagagem histórica preciosa.

Dá para dizer que a capoeira é um verdadeiro tesouro da cultura baiana. Tanto é que ela tem seu valor reconhecido a nível mundial, carregando um título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade concedido pela Unesco. Massa que só, né?

Pois então pode chegar mais, que hoje vamos te contar um pouquinho sobre a origem da capoeira, suas variações mais populares e a importância cultural gigantesca que ela carrega. Vem com a gente, que é hora de abrir a roda!

O que é capoeira? 

Um pouco de dança, um pouco de luta… todo mundo que nasceu no Brasil já ouviu uma descrição mais ou menos assim. Mas, afinal de contas, o que é capoeira?

A definição pode mesmo parecer um pouquinho confusa para quem não tem muita familiaridade com o assunto: a capoeira é uma expressão cultural de origem afro-brasileira que inclui aspectos de dança, musicalidade, luta e movimentos acrobáticos. Sim, tudo isso junto e misturado!

Talvez seja por carregar essa natureza mista que a capoeira é tão envolvente. Quem quiser praticar, é claro, tem que ter ligeireza. Para Mestre Pastinha, o maioral da capoeira de Angola, a modalidade é pura ginga e malícia. E você com certeza vai concordar com ele quando tiver a chance de assistir aos movimentos rápidos e precisos dos capoeiristas.

Em resumo, capoeira é dança, é arte marcial e também é muito mais do que isso. Aqui embaixo, a gente te explica por que ela é também uma das mais importantes expressões de resistência das comunidades negras formadas por descendentes de africanos trazidos ao Brasil durante a época da escravatura.

Qual a origem da capoeira na Bahia? 

Apesar de ser um assunto bastante estudado hoje em dia, a história da capoeira ainda tem partes pouco compreendidas.

O que se sabe, de certeza, é que a capoeira nasceu como resposta às violências sofridas pelos africanos escravizados nos tempos da colonização e do Brasil Imperial. Trazidos à força para estas terras distantes, eles eram constantemente perseguidos por capitães do mato e outras figuras determinadas a frustrar as tentativas de fuga. Nessa situação, os golpes ágeis provavelmente inspirados no ritual chamado n'golo, praticado por alguns grupos do sul de Angola, se tornaram um recurso de defesa valioso.

Esse complexo sistema marcial também servia para conservar nos escravizados (e em seus filhos e netos) o senso de ancestralidade, estreitando os laços entre eles. E como você deve saber, um povo unido é mais forte. Então já dá para imaginar que os escravocratas não gostaram nada disso, né?

Como os escravizados eram proibidos de praticar qualquer tipo de luta, eles camuflavam o potencial de seus movimentos com música e coreografias. Esse disfarce permitia que os conhecimentos ancestrais continuassem a ser passados de geração em geração. Surgia, assim, a capoeira.

Durante muito tempo, ela foi reprimida em vários lugares do Brasil, considerada uma manifestação de desobediência contra a elite escravagista. E essa desobediência era mesmo uma arma importante na luta por liberdade.

Em outras palavras, a capoeira sempre foi um símbolo de resistência das comunidades negras em todo o território nacional, ganhando uma força especial na Bahia – apesar de também ser muito querida em Pernambuco e no Rio de Janeiro – . Foi em Salvador, aliás, que nasceu a primeira escola de capoeira, fundada pelo Mestre Bimba em 1932.

E aproveitando a deixa, vamos falar mais um pouquinho sobre esse grande lutador que entrou para a história…

Tipos de capoeira 

Sabia que as rodas de capoeira, tão lindas de se ver, já foram consideradas criminosas?

É difícil de acreditar, mas é verdade. Até a segunda metade da década de 1930, os capoeiristas eram oficialmente perseguidos pelas autoridades policiais. Mas é claro que as rodas continuavam acontecendo, mesmo que estivessem em situação clandestina, e muita gente já estava na luta para mudar essas leis.

Foi nesse contexto que surgiu a figura de Mestre Bimba – apelido carinhoso de Manoel do Reis Machado –, capoeirista baiano que também tinha vivências como lutador de ringue. Ele incorporou técnicas de outras lutas ao já extenso repertório da capoeira “tradicional”, criando um novo jeito de praticar a modalidade.

Foi assim que nasceu a Capoeira Regional, variedade que continua forte até hoje. Além de ser considerado o “pai” desse tipo de luta, Mestre Bimba também teve um papel importantíssimo na descriminalização da capoeira, já que batalhou na justiça até conseguir uma autorização oficial para ensinar a modalidade em seu Centro de Cultura Física e Capoeira Regional da Bahia.

Antes das mudanças trazidas por Mestre Bimba, a capoeira do povo vinha de um conjunto de saberes que, hoje em dia, formam o tipo chamado de Capoeira Angola. Essa é variedade que tem práticas mais antigas e parecidas com a luta-dança criada pelos africanos escravizados.

Pilar importante na conservação da herança e da identidade africanas, a Capoeira Angola tem movimentos um pouco menos acrobáticos do que a Regional. Os dois tipos de capoeira, logicamente, carregam bagagens igualmente preciosas para a história das comunidades negras e para a nossa adorada cultura baiana.

Quais são as principais características e passos da capoeira?

Apesar de terem suas diferenças, as duas grandes variações da capoeira também são similares em muitos sentidos.

Os instrumentos tocados nas rodas, por exemplo, são quase uma constante. É comum ver o atabaque, o ganzá, o pandeiro, o agogô, o caxixi e o reco-reco. Sem mencionar, é claro, o mais famoso de todos: o berimbau. Feito com um arco de madeira, uma corda de aço e a característica cabaça arredondada, é ele que marca o ritmo do gingado na roda de capoeira, junto com o bater das palmas.

Quando o assunto é a grande variedade de passos (ou golpes) usados pelos capoeiristas, pode confiar que o repertório é imenso! Então não dá para listá-los aqui, mas em geral, eles se classificam em categorias de acordo com a finalidade. Em uma roda de capoeira, você vai ver movimentos simples, de fuga, de ataque, de manobra, de esquiva, de contra-ataque, de entrada, de saída e muitos outros.

Além disso, existem os floreios, movimentos acrobáticos impressionantes que “enfeitam” a luta, aqueles em que o capoeirista tira os dois pés do chão ao mesmo tempo. Haja habilidade!

Com quais outras expressões culturais baianas a capoeira se relaciona? 

Como mencionamos, a capoeira acontece nas rodas, mas sempre vai muito além delas.

Parte inseparável da própria essência da Bahia, ela é praticada o tempo todo nas ruas e centros educacionais de Salvador. Por isso, se tornou um símbolo cultural da capital baiana, praticamente um cartão-postal imaterial da cidade. Se você tiver o privilégio de acompanhar qualquer grande festa de rua por lá, vai ver que as rodas sempre marcam presença entre as multidões.

Essa influência é tão forte que aparece também na música popular baiana, em várias canções que utilizam o ritmo de instrumentos como o berimbau como base de suas melodias. Você consegue encontrar esse elemento em produções de grandes nomes como Vanessa da Mata e Olodum.

Quais os principais eventos e festividades envolvendo capoeira na Bahia? 

Como já mencionamos ali em cima, a capoeira é parte das expressões populares de quase toda festividade tradicional da Bahia. Por isso, as rodas sempre animam as ocasiões que enchem as ruas de Salvador de gente e de alegria, como a famosa Lavagem da Escadaria do Bonfim e a Festa de Iemanjá.

Além de fazer parte desses eventos já consolidados no folclore baiano, a capoeira também tem festividades dedicadas especialmente para ela, como não poderia deixar de ser. Entre os maiores eventos de capoeira do estado, está um que acontece em Camaçari, município que também é dono de algumas das mais belas praias do litoral norte da Bahia. É o Camaçari Open de Capoeira, organizado pela Associação de Capoeira Engenho.

Também vale a pena citar dois grandes eventos que reúnem muitos capoeiristas no coração da capital, Salvador. Um deles é o Festival de Capoeira Ancestralidade e Resistência, que acontece de maneira gratuita e aberta no Pelourinho. Tem também o Festival Internacional de Capoeiragem, que é uma evidência perfeita de como o poder de união da capoeira se estende para além dos limites geográficos.

A capoeira tem sido usada como meio de inclusão social na Bahia? 

A origem da capoeira não nega que ela sempre serviu como recurso para abraçar os grupos marginalizados e lutar contra os preconceitos.

E essa motivação inclusiva perdura até hoje. Afinal, o próprio resgate e a valorização da ancestralidade africana já são pilares importantes para a derrubada dos preconceitos raciais. Mas além disso, a capoeira também se consolidou como modalidade esportiva acessível, que ajuda muitos jovens e crianças a se desenvolverem de maneira saudável.

Por isso, tanto na Bahia quanto em outros estados, é muito comum que os centros de capoeira abram suas portas para oferecer aulas gratuitas. Além disso, hoje em dia, a capoeira adaptada (ou capoeira inclusiva) permite que pessoas com deficiência e limitações variadas participem das rodas e tenham acesso a todo o potencial esportivo e à bagagem histórica que elas carregam.

Fica cada vez mais incrível, né?

Viva um pouquinho da Bahia de verdade com as aulas de capoeira no Costa do Sauípe! 

Depois disso tudo, ficou fácil entender por que uma roda de capoeira é tão fascinante, né?

No fim das contas, estamos falando de uma arte que cativa porque liberta. A capoeira é, sem dúvidas, uma parte essencial da identidade cultural baiana. Observar uma roda é mais do que uma experiência capaz de fazer as emoções borbulharem: é também um contato direto com a Bahia de verdade.

Que tal ter essa vivência de uma forma inesquecível? Aqui no Costa do Sauípe, a nossa paixão pela baianidade está em tudo, inclusive na programação pensada com carinho para te mostrar os encantos da Bahia. Nas atividades do Sabores do Brasil, você pode até colocar seu gingado para jogo na nossa aula de capoeira. Não precisa ter experiência: a gente ensina do comecinho!